Eram seis da manhã e meu avô já estava contando histórias na cozinha de chão. Em formato de roda, todos ouviam, riam e passavam o chimarrão no calor da fogueira sentados em bancos de madeira. Sobre a vida de meu avô, todos sabíamos de cabo a rabo e apreciamos seus contos populares. Mas havia sempre uma figura que estava atrás e ao lado, cuidando das refeições, da limpeza, da saúde e de todos. Essa dificilmente nós ouvíamos, apenas quando estávamos entre mulheres lavando a louça. Dona Tita de Pinhal da Serra, minha avó parda de origem indígena, teve doze filhos nascidos vivos, dois destes vereadores eleitos e hoje é tataravó. Para manter todos, trabalhava na roça, conseguia doações, amamentava até mesmo os sobrinhos quando necessário e estabelecia uma rede de apoio entre várias cidades do Campos de Cima da Serra até Caxias do Sul, para poder vestir seus filhos. Teve sua casa invadida pela polícia no período da ditadura, sem nomear isso como repressão. A história de Dona Tita é uma de muitas outras mulheres idosas da região. Mulheres que criam laços, redes de apoio e articulações que passam despercebidas pelas narrativas oficiais. Histórias que unem diversas mulheres para o cuidado das crianças de forma regional, preservam a ancestralidade das mulheres negras e a cultura originária Macro-jê. As mulheres idosas e agricultoras pensadas para a proposta, trazem uma visão dos fatos vivenciados por uma mulher por décadas, sua prole, seus saberes e fazeres. Se tratando de agricultoras com baixa escolaridade, a lacuna para a história oficial é ainda maior. Mulheres que viveram uma vida toda às margens do Rio Pelotas, seus afluentes, lagos, cachoeiras e toda a abundância de água e patrimônios que há na região. 

Dona Tita, uma senhora de cabelos grisalhos, ondulados e na altura dos ombros. Através de olhos pequenos e escuros, Tita olha para frente. O sol lhe ilumina o rosto, marcado pelo tempo transcorrido e pelas histórias vividas. Ela é mostrada do peito para cima, emoldurada pela madeira desgastada de uma janela.
 Em letras cursivas brancas, o logo do projeto “Entre Rios”. A letra “T” se alonga na parte inferior e segue em curva sob a palavra “Rios”. No alto, lê-se: projeto realizado com recursos da Lei complementar nº 195/2020. O Ministério da Cultura e a secretaria da cultura do estado apresentam: Entre Rios.

História Oral, Patrimônio Cultural, Museologia Social e História Pública


O projeto ‘Entre rios: Histórias das avós e o patrimônio cultural das margens do Rio Pelotas’ busca ouvir, preservar a memória e comunicar histórias de vida de mulheres do campo que habitam nas margens do Rio Pelotas. Conhecendo a história das cidades de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS) por meio das histórias de mulheres que são chefes de família e agricultoras. Destacando os saberes e fazeres das matriarcas e as influências culturais indígenas da região do Campos de Cima da Serra.


Público do projeto: Idosas e mulheres, Agricultores, Comunidades locais e Estudantes de Escola Pública.

Acessibilidade: Oficina Acessibilidade atitudinal e capacitismo (03), textos adaptados para leitores de tela para redes sociais e audiodescrição do site (inventário, fotos e textos), minissérie com tradução em Libras e audiodescrição.

As atividades que o projeto realizará:

GRAVAÇÃO DE UMA MINISSÉRIE COM 05 EPISÓDIOS

INVENTÁRIO PARTICIPATIVO SOBRE OS PATRIMÔNIOS DE PINHAL DA SERRA

OFICINAS SOBRE ACESSIBILIDADE E PATRIMÔNIO

Fotografia colorida horizontal de uma imponente araucária, cujos galhos longos contrastam com o céu em tons alaranjados do anoitecer

LANÇAMENTO EM PINHAL DA SERRA, ANITA GARIBALDI, VACARIA E CAXIAS DO SUL

CONFIRA O QUE SAIU NA IMPRENSA!